sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Nada importante...

Cabelo
Além de chamar atenção pela pele, todo mundo olha muito também pro meu cabelo. Alguns conversam comigo um tempão só olhando pro cabelo. Uma menina perguntou se era de verdade e uns 3 pediram pra encostar. Um empolgou e ficou um tempão passando a mão numa mechinha, calado... e isso que eu ando só com o cabelo todo preso por causa do calor. No dia que eu lavei e saí com ele solto o povo foi à loucura hehehehehe. Nem tive coragem de contar que fiz progressiva e na verdade não é tão liso. Mas acho que não vão se importar muito quando começar a enrolar.

Internet
Tem só um modem pra acessar internet sem fio aqui na conferência e tem sempre um mote de gente querendo usar, então eles não deixam. Mas tô escrevendo no meu computador (que tem dia que funciona, no outro não funciona...) e meu amigo deixou eu entrar na Internet um pouquinho pra postar aqui no blog. Por enquanto não dá pra responder e-mails pessoais, mas acho que vou ter mais acesso à internet semana que vem, quando eu for pra minha “casa”. E assim que der coloco as fotos, mas por enquanto ta complicado...

SAUDADE DO BRASIL, JA!!!!

Conhecendo o Rei

Conhecendo o Rei
Eu estava no meio de uma palestra e um carinha (que eu já tinha conhecido, mas não tinha a mínima idéia de quem era) me chamou e falou pra ir com ele. Disse que queria que eu fosse com ele conhecer o rei. Ele explicou um monte de coisa mas eu não entendi nada, só fui. Chegamos em uma casinha, fizemos uma reverência e entramos. Pediram permissão pra ver o Rei e ficamos esperando. Uma meia hora depois o cara chamou a gente e entramos na casa maior (nada demais, uma casa grande mesmo, suja como todas as construções aqui). Entramos, nos ajoelhamos, depois sentamos em umas cadeiras. Conversaram um monte de coisas em Yorubá (dialeto local) e depois pedimos pra tirar foto com o tal do Rei. Ele tem um monte de fotos com pessoas importantes nigerianas na parede, é cheio de assistentes e tem uns 3 celulares que tocavam o tempo inteiro. Combinaram alguma coisa e fomos embora. Não entendi nada, mesmo quando pedi pra explicarem de novo hehehehehe. Parece que ele é o Rei de uma das tribos e eles estavam pedindo autorização pra fazer uma visita, queriam que eu fosse pra mostrar que a organização é internacional e tal. Todo mundo ficava me olhando, pra variar.

Conferencia

LUGAR: O lugar da conferência é o paraíso: água quente (não que precise, pq é o maior calor e tudo o que eu quero na hora do banho é água fria, mas é até bom um pouquinho de água morna na hora da baldada de água na cabeça), frigobar, ar condicionado, televisão (preto e branco, claro)... O primeiro dia foi ótimo, a menina do meu quarto é bem legal, me empresou papel higiênico (êêêêê, pelo menos agora sei que existe, vou tentar comprar hoje), o lugar é cheio de árvores, gostei bastante.

COMIDAS e BEBIDAS:

Primeiro lanche: miojo cru com tempero! Pode parecer estranho mas foi a melhor coisa que comi até agora... a marca do treco está patrocinando a conferência, então tem um monte de saquinhos e to começando a enjoar, mas é a única coisa não tão apimentada.

Jantar: miojo seco com extra extra pimenta e SevenUp pra beber.

Café-da-manhã: pão (tipo de forma, mas inteiro, sem cortar) com manteiga e chá com leite (ganhei um chá sem leite quando virão que eu não estava bebendo nada).

Almoço: mandioca cozinha num molho amarelo, cor de açafrão, um monte de outros temperos e milhões de pimentas é claro.

Bebidas: Quando alguém compra água pra mim eu bebo da água cara, mas já tô bebendo da barata também... na festa o povo tava bebendo cerveja tipo long neck, suco de caixinha (uma pessoa com uma caixinha inteira de 1 litro) e vinho de caixinha, igual o suco. Eu tava cansada e não fiquei na festa, fui dormir.

PESSOAS CHATAS: Tudo estava bem até que chegaram mais 4 meninas para nosso quarto, que tem só uma cama de casal. Compraram um almoço separado, comeram na cama e ficaram o dia inteiro no quarto passando maquiagem, ouvindo música alta e dançando. E ainda fazem um monte de caretas quando eu e a minha amiga entramos no NOSSO quarto, que elas invadiram : P. Acho que vamos tentar mudar de quarto.

ROUPAS: Tá o maior calor e o povo usa calça o tempo todo, hoje tinha um monte de gente com camisa de manga comprida, uma doida de cachecol e a outra vendendo colete de lã com a marca da AIESEC. Parece que eles acham chique. Eu tô o dia inteiro de calça jeans, camiseta e havaianas. Não deu pra trazer muita coisa pq a gente veio de moto, então só podia trazer a mochila pequena.

AIESEC: Pra quem já foi em conferência da AIESEC: as sessões começam às 10h00, tem roll call até 11h, almoço às 14h, depois sessão até 20h, jantar, sessão de novo até 23h e só depois festa. Todo dia.

Dia 2

Hoje vi um monte de crianças indo pra escola, todas usando uniforme, vi uns 20 uniformes diferente, todos coloridos. As meninas de macacãozinho de saia, camisa e milhões de coisas coloridas no cabelo. Os meninos de calça, camisa e gravata, alguns de chapeuzinho. Ainda não tive muita coragem de tirar foto porque todo mundo já fica olhando muito pra mim, imagina tirando foto. Ah! Eu não sou uma das únicas brancas na cidade, sou A única! Um dos meninos que estava em uma van escolar levantou a mão devagarzinho, cheio de vergonha e arriscou um tchauzinho... na hora que eu dei tchau de volta pra ele todos começaram a pular e gritar e me dar tchau também... foi bem legal!

Comprei meu celular (+234 080 6359 9792). Mandem mensagens!! Fico super feliz quando chega uma mensagem! Ainda não sei se foi caro ou barato, acho que custou uns R$8,00. Diz o povo que é barato. Tenho q comparar com meu salário e as outras coisas e começar a entender melhor quanto custa cada coisa... fora o chip do celular, o cartão de celular e uma extensão que comprei porque o plug das tomadas é diferente, não gastei mais nada. Os meninos tão sempre pagando tudo pra mim (comida, água, transporte) e eu desisti de oferecer pra pagar, tô até achando bom.

Andei de Okada (motoboy) de novo, fica menos assustador a cada vez, esse não correu muito, mas ainda morro de medo. O pior foi passar numas poças de água enormes e sujas, bem fundas mesmo, tem que levantar o pé pra não sujar.

Arrumei as coisas e fui para uma conferência da AIESEC que está tendo aqui... fico aqui até domingo, só vou pra minha cidade (Ekiti) e começo a trabalhar na segunda. Vou fazer um post só da conferência e ver se coloco umas fotos.

Dia 1

Por incrível que pareça dormi bem. Quando acordei fui de táxi lá pro meu apartamento, tomar banho... de chuveiro! Êêêêêê! Lavei o cabelo, dei uma arrumada nas coisas e me arrumei pra ir conhecer meu chefe. Como estávamos atrasados tivemos que voltar pro escritório de “moto-taxi”, que eles chamam de bike. É umas 10 vezes mais rápido (sem exagero) e pelo menos 3 vezes mais barato. Capacete? Acho que nunca ouviram falar. Calçada (ou passeio) é pra pedestre, certo? Também, mas serve principalmente pros Okadas (motoristas das motos) cortarem caminho quando o trânsito tá congestionado. Ainda bem que aqui nunca chove, né? Pois é, pois não é que choveu bem nessa hora? Eu lá toda arrumadinha, roupa social, sandália bonita, toda molhada e pisando nas poças de barro. Como estava chovendo muito adiamos a reunião e fiquei fazendo nada (literalmente).

Lagos (a cidade em que eu estou) é dividida em Mainland, que é a parte “no continente” e um monte de ilhas. A principal é a Victoria Island, onde ficam todas as grandes empresas. É o mais perto que chega de uma cidade brasileira, com prédios, asfalto, um pouco mais limpa, algumas lojas... Eu estou sempre na Mainland. No fim da tarde a chuva parou e fomos pra essa ilha (de táxi, levou mais ou menos 1 hora).

Meu chefe é bem legal, mas eu estava um pouco nervosa, não entendia direito o que ele falava. Ele perguntou um monde de coisas sobre o Brasil (economia, política, relações internacionais) e eu não tinha a menor idéia, fiquei com vergonha, mas inventei umas coisas e mudei de assunto :D. Também me perguntou o que eu sei de microcrédito, já que vou trabalhar com isso e eu disse que quase nada... perguntei se ele tinha alguma coisa pra eu ler sobre o assunto e ele me deu o projeto deles pra ver, mas disse que eu não precisava preocupar, que vou ter tempo de aprender tudo com calma. Ficamos umas 3 horas lá, o povo aqui é muito enrolado, toda hora ele tinha que resolver alguma coisa ou ficava tentando abrir alguma coisa na internet pra me mostrar. Daí os meninos que estavam comigo falaram que a gente tinha que ir embora comer alguma coisa, pq já estava tarde (umas 8 da noite) e a gente ainda não tinha comido nada. Aí ele pagou nosso jantar :-))))). Fomos num fast food do lado da empresa e pediram arroz com frango pra todo mundo. Uns 10 reais o prato com um refrigerante. Era tipo arroz à grega, gostoso, mas o frango era muuuuuito apimentado, impossível de comer. Meu amigo comeu o meu. Voltamos pro apartamento e fui dormir, depois do meu primeiro dia na África.

Dia 0

Chegando no aeroporto a primeira coisa que vi foi um monte de gente brigando, gritando muito, acho que uma mulher tinha sido barrada na porta do avião sei lá porque. Passei esse povo e fui pra fila da imigração, atrás da mulher branca do avião e seus dois filhinhos. Ficamos lá uns 10 minutos e de repente um cara começou a gritar com a gente porque a gente tava na fila errada, que ele queria ir embora, achou que tinha acabado o trabalho dele e de repente chegam duas idiotas que não sabem nem pra onde ir... foi uma péssima primeira impressão, todo mundo gritando com todo mundo, funcionários brigando entre si... não via a hora de sair dali.

Chegando lá de fora o David, carinha da AIESEC que eu conhecia por internet estava me esperando com mais dois amigos. Pegamos um táxi (depois de uns 20 minutos de “barganha” – já é normal cobrar mais caro pra negociar, quando vêem uma pessoa branca, então, mais que o dobro... daí eu tenho que ficar longe, esperar o povo negociar e depois aparecer :P) e fomos deixar minhas malas no apartamento onde eu ia ficar nos primeiros dias. De lá fui pro escritório da AIESEC, onde dormi a primeira noite.

Primeiras surpresas: cadê o papel higiênico? Não tem! Ah, que legal, tem uma banheira! É, pq não tem chuveiro, é banho de balde, então precisa da banheira pra não molhar o chão. Cama? Não, colchão no chão. Travesseiro? 2 pra 10 pessoas (tinha umas 20 pessoas dormindo lá. Água? Vamos lá embaixo comprar pra você uma da Coca-Cola Company, essa que a gente bebe é embalada mas não é segura. Comida? Dei uma olhada e resolvi deixar para o outro dia. Geladeira? Não existe. Fogão? Nada, fazem um foguinho no “terreiro” e cozinham por ali mesmo. Energia elétrica? Na hora que eu cheguei tinha, depois acabou. Temperatura à meia-noite: por volta dos 28ºC. Encanamento? Valas nas ruas (cuidado pra não pisar na poça de cocô). Pelo menos falam inglês, né? Comigo sim, mas entre eles tem um tal de pigim (não sei como escreve), q é um inglês “quebrado” como eles mesmos dizem e pra falar com as pessoas na rua é o Yorubá, dialeto local. Ou seja, só entendo quando falam comigo, e mesmo assim depois de repetirem algumas vezes.

É, depois disso tudo, melhor ir dormir pra assimilar tudo.

Viagens e aeroportos

Minhas viagens não podiam ter sido melhores: em todos os vôos as cadeiras do meu lado estavam vazias, então vim dormindo confortável, na medida do possível. Em SP descobri que só podia levar uma bagagem de mão, e não duas, então tive que embalar uma junto com a mochila maior que estava despachando pra contar como uma só.

Em SP não fiz nada interessante, a internet é muito cara, então fiquei só fazendo palavras cruzadas e dando umas voltas... em Madrid também não fiz nada, fiquei andando pra disfarçar o sono e não consegui descobrir como ligar a cobrar pro Brasil, então tive que comprar um cartão internacional super caro. O carinha me disse que lá não existe chamada a cobrar internacional (acho q é mentira, mas...) e que o cartão ia funcionar na Nigéria. Mas como todo o resto, não funcionou... O único país da África que parece “existir” pro resto do mundo é a África do Sul.

O vôo pra Nigéria foi engraçado... eu era uma das pouquíssimas pessoas brancas no avião, sendo que fora eu tinha mais uma mulher (casada com um nigeriano) e um monte de homens grandes e gordos. Eu era a sensação, novinha, branca e com uma ovelha de pelúcia azul pendurada no braço. Durante o vôo todo mundo ficava passeando pelo avião, conversando e rindo alto, gritando, pedindo mais bebida. Parecia uma festa. Eu dormi quase o tempo todo, nem comi nada.