quinta-feira, 20 de novembro de 2008

ESTOU INDO EMBORA (19/11/2008)

Como meu trabalho aqui não deu certo, comecei a procurar por outras coisas, talvez na Nigéria, talvez em outro país. As opções que me ofereceram na Nigéria são pra ficar no mínimo um ano e o trabalho não me atraiu muito, então resolvi ir embora.


Estou indo pra Eslováquia (Livina é a cidade), trabalhar no escritório local da AIESEC lá por 2 meses.

RESPONDENDO AOS COMENTÁRIOS:

Aproveitando que tenho internet de graça hoje, vou responder aos comentários mais recentes...

Aninha: sempre esqueço o repelente... e até que to fazendo muito exercícios, ontem caminhei meia hora!;

Nina e Aninha: eu emagreciiiiiii, a calça ta até caindo! Mas na balança to pesando a mesma coisa... acho que a gordura das pernas (que já era pouca) subiu pra barriga (que já era grande) :P

Nina (sem dúvida os melhores comentários): definitivamente não consigo falar o R alemão de regen, nem juntando muuuita baba... Nos hotéis sempre tem água encanada, e “chuveiro” (chuveirinho, de qualquer forma tem que tomar banho com uma mão só, igual quando é de balde”)

Thay: coloquei fotos especialmente pra você, porque na verdade eu sempre tiro foto das coisas e quase nunca apareço J

Clarissa: saudaaaade prima!! Tão feliz quando vi seu comentário... me manda seu e-mail pra gente manter contato!!

Dri: saudade nada, só tem 1 recadim :-))))



Quem lê o blog e não deixa comentário: eu não gosto de você! :D Adoro ler comentários, então de vez em quando, se der, deixa um... não precisa ser nada elaborado, pode ser um "oi".

Comidas

Comendo pizza em Victoria Island
(eu e a Nina quase explodimos de tanto comer, foi muito muito muito bom... tá que a pizza não era lá essas coisas, mas foi um pedacinho de paraíso)



Almoço: arroz branco, feijão frito e "stew"de vejetais,
é um molho feito com uma folha escura que baba igual quiabo, não faço idéia do nome. O povo acha muito estranho eu comer sem carne, mas assim que eu tiver a oportunidade de mostrar uma foto da carne vocês me falam se comeriam...


Pounded Yam
que eu defino como purê de inhame. Vem assim no balde e vc pede o tanto que quer, cada colherada custa uns 10 centavos.

Carne frita. Quer?




Amendoim e banana frita
(ao inves de babata frita, eles comem banana frita, tem em todo lugar... tipo ruffles, só que de banana...)

Mais fotos


Patricia (alemã), Sonja (lê-se Sônia, austríaca), eu (de camisa do Brasil), Anna e Lisa (suecas), na casinha da árvore, rodeadas por macaquinhos (que fugiram na hora da foto)

.

Lojinha que vende chiclete e cholocate importado (sim, isso é uma "lojinha", mas estava fechada nessa hora)

Fotos do fim de semana

Praia (Lekii Beach)
Só tenho essa foto pq acabou a bateria da máquina, mas vou lá de novo fds que vem!




Casinha na árvore
(é muito alto, tentei mostrar na foto mas quando tirei foto lá de baixo nem deu per ver, então tirei na metade do caminho)





Subindo na casinha da árvore

FINAL DE SEMANA (18/11/2008)

Antes de contar do final de semana, quero me desculpar por não responder os comentários, mas estou sempre lendo todos e fico muito feliz quando tem algum!! Continuem escrevendo :-))))

Na sexta-feira fui em uma despedida de solteiro. É uma festa normal, com homens e mulheres bebendo, dançando... só que a noiva não vai e eles pagam bastante bebida pras mulheres pra elas ficarem tontas. Foi em um bar/boite na ilha, ficamos lá até umas 3 horas. Experimentei uma bebida que parece licor de jabuticaba, mas não sei se é e cerveja nigeriana, mas não bebi muito, só experimentei mesmo. Fui com a Nina e o pessoal da AIESEC.

SÁBADO: SHOPPING E PRAIA

No sábado eu e a Nina resolvemos ir ao Shoprite (shopping + supermercado) sozinhas. Anotamos os nomes dos lugares pra onde tínhamos que ir e pegamos o primeiro “ônibus” (vou colocar a foto, é daquelas vans amarelinhas). Até o segundo ônibus tava ok, mas na hora de pegar o terceiro não tínhamos a menor idéia de onde era o “ponto”, estávamos no meio de um dos mercados de rua mais cheios. Aí perguntamos pra uma moça que estava perto da gente e ela ia pro mesmo lugar, então a seguimos.

O shopping é realmente um shopping, com cinema, lojas caríssimas e praça de alimentação. Comemos uma pizza e fomos “passear” no supermercado por horas. Descobri que aqui existe, sim, pra vender, qualquer coisa que você queira comprar. Mas uma caixa de cereal pode custar até R$30,00 e 600 gramas de mussarela também. Vi frutas e verduras, chocolates, produtos de higiene pessoal, móveis, chuveiro (R$300,00). Pensamos em comprar várias coisas, mas não dá pra comprar nada que precise ficar em geladeira, ou mesmo longe do sol. E é tudo MUITO caro. Então compramos só uns chocolates.

Depois fomos pra praia, encontrar uns amigos da Nina. Conheci um alemão que morou um ano em Ipatinga/MG, por um programa de intercâmbio no colegial, três alemãs, duas suecas, uma austríaca e um guatemalense (como se chama quem nasce na Guatemala?). Todos estão aqui fazendo trabalho voluntário, alguns há poucas semanas, outros há quase um ano. A mais nova tem 19 anos e a mais velha tem 26. Se encontram todos os finais de semana, normalmente pra ir à praia, depois fazer alguma outra coisa. Têm outros gringos que se juntam ao grupo esporadicamente.

Gostei muito da praia, é tranqüila e cheia de palmeiras. É suja, mas perto do resto da cidade nem é tanto assim. Foi a primeira vez que eles foram nessa praia (Lekii Beach), antes iam em Takua Beach e dizem que é bem pior, muito mais suja e cheia de gente. Lekii Beach é longe e tem que pagar pra entrar. Mesmo sendo só R$2,50, limita bastante o acesso.

Depois da praia combinamos de ir no cinema que abriu aqui na Mainland, mas descobrimos que custa R$30,00 (mais caro que na ilha), então desistimos. Fiquei em casa vendo filme com a Nina.

DOMINGO: LEKII CONSERVATION CENTER

No domingo fui com a Nina, a Lisa (sueca de 19 anos), Anna (sueca), Patrícia (alemã) e Sonia (austríaca) em uma reserva ambiental. Todas nós tínhamos esperança de ver animais na África e estamos cansadas de ver só cabritos, galinhas e lagartos. O parque diz que tem macacos, crocodilos e vários pássaros. Nós vimos macacos e tartarugas.

O lugar é bem legal, bem conservado, limpo, bem sinalizado. Fizemos uma “trilha” de cerca de 2 horas no meio da floresta, subimos em uma casinha na árvore bem alta, onde ficamos rodeadas por macacos e descansamos um pouco em uns banquinhos numa área de pic-nic. Foi uma tarde bastante agradável.

No caminho de volta pra casa eu e a Nina passamos numa “lojinha” pra comprar DVDs (você compra um DVD aqui por R$5,00, com uns 10 filmes). Comprei uma coletânea da Julia Roberts e as primeiras temporadas de Lost. A Nina comprou uma coletânea de filmes românticos (diz ela que é difícil achar, normalmente quando vem escrito “românticos” é um monte de filme pornô) e uns outros seriados que ela gosta.

Fomos em uma outra “lojinha” que vende chocolate importado (tem um da Argentina muito gostoso e baratinho), mas estava fechada. Fomos também conhecer uma loja de verdade (chama Dominos) que parece um mini-supermercado e tem vários freezers, então dá pra comprar sorvete, queijo e coisas assim. E é em Mainland, então só precisamos pegar um ônibus até lá. Mas as coisas continuam sendo bem caras.

Eu vi umas latinhas de “evaporated milk” e comprei, toda feliz, pra fazer brigadeiro. Compramos margarina e chocolate em pó também e atum e extrato de tomate pra fazer macarrão. Mas descobri que leite “evaporado” não é a mesma coisa que leite condensado, que o chocolate em pó só mistura com água e leite em pó, não com leite de verdade (porque todo mundo aqui só bebe leite em pó, porque não tem geladeira) e então só consegui um pouco de chocolate queimado.

ANJINHOS (17/11/2008)

Quando acompanhava os blogs da Letícia em Bangladesh e da Marina na Ucrânia / mochilão na Europa, sempre que lia sobre os ‘anjos’ que elas encontravam pelo caminho ficava imaginando de saberia reconhecer os meus.

Penso que com certeza vários anjinhos já me ajudaram pelo caminho, sem que eu os percebesse. E quais eu percebi?

Quando penso em um anjinho a primeira imagem que me vem à cabeça é a de uma criança loirinha, de bochechas rosadas, com uma “calcinha” branca. O primeiro anjinho que eu reconheci aqui está longe disso, mas com certeza foi um super anjo: Mr. Bayo.

Quando eu e a Nina estávamos perdidas tentando pegar um ônibus, a moça que apareceu pra ajudar com certeza é outro.

Quando a polícia (que não é nem um pouco agradável e extremamente corrupta) parou o táxi que pegamos (eu e mais 5 “gringas”) pra ir em uma reserva ambiental e pediu os passaportes (que ninguém tinha levado), o moço que viu a cena e parou pra ajudar com certeza é outro.

A minha vizinha (que deve ter uns 5 anos), que sempre pergunta o nome da Nina de novo porque esqueceu, e só perguntou uma vez o meu, é outro. Lembrou meu nome e gritou “Luna, Luna, aqui, aqui”, quando eu estava passando de moto sozinha, à noite, e não lembrava onde era a casa da Nina.

Tem também o Okada (moto-taxi) que está sempre perto da casa da Nina e conhece os lugares que eu “costumo” ir, então sempre que estou sozinha e ele está por perto, vou com ele. Hoje um cara que estava em outra moto começou a falar comigo (“oi, você é linda, quero casar com você”, etc etc etc) e depois começou a puxar meu braço e falar um monte de coisas que eu não entendi. Meu anjinho okada desacelerou a moto e tentou ficar longe do cara. Quando viu que o cara estava seguindo a gente, deu uma volta enorme pra despistá-lo. Não me falou nada, nem cobrou a mais por isso. Só disse que era pra eu tomar cuidado e ficou me vigiando de longe enquanto eu ia do lugar onde desci da moto pro escritório da AIESEC.

Agradeço imensamente a todos os meus anjinhos (percebidos ou não) e espero que continuem me acompanhando.


sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Laolu (meu melhor amigo nigeriano) e eu no cinema.



Jantar de Gala em Ado-Ekiti



Eu, o povo da AIESEC e um cantor nigeriano famoso (esse de chapeuzinho vermelho).

Pessoas

MR. Kola Akosile, meu chefe!




Mr. Bayo Ayo, meu "host"

LAGOS (14/11/2008)

Depois de duas semanas tentando resolver as coisas em Ekiti, percebi que era inútil. Meu chefe é o único que pode me ajudar na empresa (os outros nem sabiam que eu vinha) e está sempre muito ocupado, ou viajando, então passei todo esse tempo fazendo nada. O meu ‘diretor’ só falava: “senta ali com ela e observa o que ela ta fazendo, pra aprender.” E aí fiquei observando o trabalho de caixa num dia, de atendimento ao consumidor no outro, do contador no outro... ou seja: o que me fez decidir vir pra cá, que era o trabalho com ONGs, microcrédito para grupos, estudos de viabilidade em projetos sociais e coisas assim, estava longe de acontecer. Depois de reclamar muito com a AIESEC e com meu chefe, ele me disse que eu tenho que ter paciência e que com certeza eu vou trabalhar com isso, mas vai levar algum tempo. Talvez (a palavrinha mágica nigeriana que tanto irrita qualquer estrangeiro) em um mês, talvez mais. Então decidi que não dá pra esperar e comecei a procurar outra coisa.

Vim para Lagos (a cidade grande e cheia de gente) na terça, com meu chefe. A viagem, que pode ser feita em 4 horas, durou 13. Porque ele passou numa fazenda pra conversar com um potencial parceiro, parou num “posto” pra esperar um amigo... um dia tipicamente nigeriano. Ninguém tem o menor compromisso com tempo, prazo, então tudo demora muito mais do que o necessário.

Em Lagos estou ficando na casa da Nina, trainee alemã que “trabalha” em uma empresa de RH. Ela mesma diz que “trabalha”, assim com aspas, porque ela está aqui tem 2 meses e a empresa não teve nenhum cliente nesse período. Mas ela vem pra cá todo dia e tenta fazer alguma coisa. Ela sofre bem mais que eu por causa da falta de compromisso e pontualidade das pessoas, porque ela é alemã. E extremamente pontual e profissional.

Na terça, depois que cheguei, nós cozinhamos macarrão. Foi maravilhoso comer algo diferente depois de semanas comendo bolachas e tortas de carne. Na quarta comi uma minipizza no almoço e um crepe à noite, na ilha. Meu amigo (Laolu) me levou na ilha pra ir no cinema (que custa em torno de R$20,00, durante a semana!), foi muito bom. Durante o dia fui conhecer o mercado de rua mais famoso daqui com o Laolu. Pelos padrões nigerianos até que estava vazio. Mas tem umas crianças (refugiadas de algum lugar que eu não entendi, mas parecem indianas) que ficam agarrando a gente (literalmente), pedindo dinheiro. Foi a primeira vez que vi alguém pedindo dinheiro aqui.

Ontem vim pra empresa da Nina usar a internet e à noite fomos passear com uma outra alemã (Patrícia) e uma austríaca (Sonia) que estão aqui fazendo trabalho comunitário. Primeiro fomos em uma loja (loja de verdade, não barraquinha de madeira na rua) tipo mercearia, que tem freezers, então tem coisas como queijo, sorvete e leite, que eu ainda não tinha visto aqui. Depois fomos numa tal de White House, um “restaurante” muçulmano tipo self-service. Tem várias coisas, você olha, escolhe o que quer, quanto quer (em Nairas) e elas colocam pra você. Comi purê de inhame (bem famoso aqui), molho de vegetais (na verdade é só uma folha escura, tipo couve) e banana frita.

Parênteses para falar sobre a nossa mesa, na White House: quatro Oimbos (é como eles chamam as pessoas brancas aqui) com certeza chamam muita atenção. Mas fora isso, foi muito bom poder responder sinceramente à pergunta “e aí, o que você está achando da Nigéria?”. Elas também detestam tudo que eu detesto e também pensam em voltar pra casa todo dia. A Patrícia gosta do que está fazendo (é realmente o que ela veio fazer), está aqui tem 4 meses e pretende ficar mais 5. A Sonia está aqui há 6 semanas e deveria ficar 9 meses, mas está com o mesmo problema que eu: veio pra fazer uma coisa e está fazendo outra completamente diferente e entediante. Vai tentar mudar, mas se não conseguir acho que vai embora.

Depois da White House as meninas foram pra casa e eu e a Nina formos para um bar com uns amigos dela, nigerianos e o Laolu. Era pra gente ter ido pro Hospital Psiquiátrico, mas estava fechado. Estranho, né?? Pois é, tem um centro social lá (um barzinho na verdade), que dizem os jovens ser o melhor lugar da cidade pra sair. Passei lá pra ver e é realmente dentro do complexo hospitalar, bem esquisito. Hoje vamos sair pra algum bar com as meninas que conheci ontem e outros “internacionais”. No fim de semana a Nina quer me levar pra conhecer a praia e o shopping que fica na ilha, diz ela que é muito bom e parece europeu.

Enquanto isso estou contatando todas as pessoas que conheço pra ver se arrumo outra coisa, em outro lugar. Também estou tentando arrumar alguma outra coisa aqui na Nigéria mesmo, mas não tenho muita esperança. Acho que devo ir embora daqui nas próximas duas semanas. Ainda sem destino definido. Assim que souber pra onde vou, quando vou e o que vou fazer, posto aqui.

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

FIM DE SEMANA (09/11/2008)


Nesse final de semana aconteceu o “Ekiti day”, tipo um “aniversário da cidade”, só que não é aniversário. Na sexta à noite teve o concurso de Miss Ekiti, um show de um comediante famoso aqui (muito bom por sinal) e algumas apresentações culturais. No sábado mais apresentações culturais durante todo o dia e um jantar a noite, com premiações para destaques da sociedade. O evento foi planejado, patrocinado e realizado por um grupo de pessoas influentes da cidade, que se uniram para... sei lá pra que, pra ter mais poder de certo. Eles têm um nome (e-eleven – originalmente os 11 mais poderosos de Ekiti – que agora são mais de 30) e se reúnem frequentemente pra discutir sobre política, para se divertir, para jogar golf, para fazer lobby, pra fazer negócios, pra escolher o próximo governante... coisas assim. Então é claro que todos os “premiados” no jantar de gala eram participantes do grupo.

Na sexta foi bem divertido, as candidatas a Miss eram bem feinhas (várias mulheres na platéia eram bem mais bonitas) e todo mundo ficava comentando. O comediante é realmente muito bom, tiveram umas performances locais ruins, um grupo de dança muito muito bom e uma apresentação de um cantor famoso. Fui como acompanhante do Mr. Bayo, aí nem paguei (custava uns R$20,00) e fiquei com o pessoal da AIESEC lá. Depois do evento fomos para uma boite, onde ficamos até 5 hrs da manhã. O povo aqui dança bem colado e pornograficamente e tinham um menino muito chato “seguindo” eu e minha amiga (que eu achava que era “amiga” do Mr. Bayo, mas descobri que é sobrinha, e é bem legal), tentando “encoxar” a gente. Aí desistimos e fomos sentar. Ela e uma amiga vieram dormir aqui em casa e acordaram às 7h da manhã, sei lá porquê, e ficaram fazendo barulho, então eu acordei também.

No sábado durante o dia ninguém quis me levar (acham chato ver essas coisas locais) e à noite foi o jantar mais tedioso da minha vida. Não achei o povo da AEISEC, então fiquei na mesa com Mr. Bayo, um monte de políticos chatos e suas “amigas”. Alguns estavam com as esposas. Não jantei, porque tudo era muito apimentado e já me acostumei a não comer à noite, então nem sinto mais fome. Depois achei o povo da AIESEC e eles queriam ir pra boite, mas eu tava morrendo de sono, então quis vir pra casa dormir.

Resumindo, passei o fim de semana reunida com a nata da sociedade Ekitizense (ou seja lá como se chama quem nasce aqui), em um hotel 4 estrelas bem chique, mesmo pros padrões brasileiros, andando em carros importados também muito chiques. Apesar disso, foram as minhas experiências mais Nigerianas, porque vi as roupas locais, apresentações culturais, culinária, música... e mesmo o contraste de riqueza e pobreza, que com certeza é uma das marcas da Nigéria.

A NIGÉRIA, POR UM NIGERIANO (09/11/208)

Hoje meu “host”, Mr. Bayo (que por sinal tem se mostrado uma ótima pessoa) me falou um pouco sobre a perspectiva que ele tem do próprio país. Foi muito interessante. Vou tentar reproduzir a essência do que ele falou aqui.

A Nigéria é composta por muitas (mais de 200) tribos, mas pode-se dividir a população em três etnias principais: os Yoruba (que ocupam o Sul), os Ebo (que ocupam o Leste) e os Hausa (que ocupam o Norte).

Há alguns anos, o país enfrentou uma Guerra Civil, provocada pelos Ebo, que no fim foram derrotados. Desde então, apesar de não terem sido expulsos do país, os pertencentes à essa etnia são marginalizados pelos demais. A região que ocupam é portanto, a mais pobre e tem o menor índice de desenvolvimento. Apesar disso, de acordo com Mr. Bayo, eles são os mais inteligentes e os mais empreendedores. Em toda família tem pelo menos uma pessoa com uma empresa própria e os donos sempre têm o cuidado de ensinar alguém mais da família sobre o negócio, seja para deixar um sucessor ou para expandir o negócio, abrindo mais algumas lojas. E são sempre lojas. Pouquíssimos se aventuram no ramo industrial. Preferem o comércio. São responsáveis pela grande maioria das representações comerciais, distribuidores e revendas de produtos no país, mesmo nas outras regiões.

No Norte estão os Hausa, no Niger Delta. É lá onde está o petróleo e, portanto, de onde vem a maior parte da riqueza do país. No entanto, é também uma região muito pobre, pois cerca de 90% da riqueza obtida com o petróleo sai do país, pelas mãos dos governantes e mesmo de alguns empresários. Segundo Mr. Bayo eles são “menos inteligentes”, estando atrasados cerca de 70 anos em relação à educação que se encontra nos estados do Sul. A religião predominante no Norte é o Islamismo e dizem que a região parece outro país, tão diferente são os costumes, culinária, língua e mesmo a aparência das pessoas. A região é famosa pelo altíssimo número de seqüestros.

No Sul, terra dos Yoruba, estão as grandes cidades (como Lagos e Abuja, a Capital do país), as melhores universidades, as grandes empresas. Mr. Bayo disse que os Yoruba são também muito inteligentes (prova disso é o número altíssimo de pessoas com PhD obtidos tanto nacional quanto internacionalmente), mas sua inteligência não gera desenvolvimento, por dois motivos: primeiro, porque ela é individual. Cada um cuida “do seu cantinho”, seu negócio, sua carreira, sua família, sem se preocupar com o país como uma só nação ou mesmo com a comunidade local. Segundo, porque as pessoas (claro que não todas, mas a maioria), usam sua inteligência para coisas ruins. Como só estão preocupados consigo mesmos, não pensam duas vezes antes de passar a perna em alguém, se isso trouxer um bom lucro. A religião predominante é o cristianismo e as igrejas são riquíssimas, donas dos melhores prédios, das maiores empresas, das contas no banco mais gordas e “dos principais líderes e governantes”.

O país tem diversos recursos naturais e grande potencial de desenvolvimento. Mas não vai pra frente. Mr. Bayo culpa péssimos líderes que sempre governaram o país, tirando o dinheiro daqui para investir lá fora. Mas ele mesmo confessa que gasta seu próprio dinheiro muito mais no exterior do que aqui. E então diz que além de bons líderes, o país precisa de consciência de coletividade, precisa se unir para crescer.

Falando em líderes, a corrupção aqui é assombrosa. Corrupção existe em qualquer lugar, mas aqui ela é extremamente comum e descarada. A diferença que eu vejo é que aqui sempre tem alguém de olho, querendo tirar o corrupto do seu posto, que seja pra assumir e ganhar o seu próprio dinheiro sujo. Então é raro um mesmo político iniciar e terminar seu mandato. É impeachment atrás de impeachment, quase sempre por uma falcatrua que foi descoberta. Mas quem faz isso não é o povo, mas os outros políticos que estão de olho no cargo. O povo só fica sabendo que alguma coisa aconteceu e que o líder agora é outro. As eleições não são obrigatórias (a maioria das pessoas nem é registrada oficialmente), então quem decide as coisas mesmo, são os partidos políticos: quem tem a aliança mais forte, quem tem mais dinheiro, quem é mais esperto. E como é no poder que se ganha dinheiro, o sonho de todo nigeriano é ser político. Em uma eleição presidencial, chegam a ter mais de 40 candidatos. E os candidatos mais fortes são inimigos mortais entre si.

Isso é um pouco do que eu sei sobre a Nigéria, vindo do assistente jurídico do atual governador do meu estado. Espero ter outras oportunidades de conversar com ele sobre política e economia, assuntos que nunca me interessaram, mas que começo a tentar entender um pouco melhor e que ele consegue explicar com muita clareza, fazendo tudo parecer simples.

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Sujeira



Olha o tanto que o meu quarto é limpinho!

Minha casa




Fotos da minha casa, o jardim de fora na primeira e a fachada na segunda.

As pessoas não pintam as casas, aí fica assim meio feio e triste. E quando pintam fica tudo sujo da fumaça dos geradores, entào nem faz muita diferença.
Vou tentar tirar umas fotos da cidade.

Cozinha







Cachorro (meu vizinho)





Banheiro




Guarda roupa nojento, cheio de coisas do cara,
muita sujeira e bichos mortos, tipo baratas




Cozinha







Cachorro (meu vizinho)





Banheiro




Guarda roupa nojento, cheio de coisas do cara,
muita sujeira e bichos mortos, tipo baratas



Conhecendo o rei



Na foto de cima: eu, Nina (alemã - adivinhem qual é hehehe) e o povo no "Palácio" do Rei.

Na foto de baixo: eu e o Rei.

Comidas


A primeira foto é o q eu tenho comido normalmente:
bolacha água e sal e suco, ou refrigerante.

A segunda é um prato tipico, feito de mandioca cozinha com milhões de temperos
(e muuita pimenta).

Press Conference



Conferência de imprensa que eu fui, na foto de cima são os repórteres,
na de baixo a gente na mesinha, falando as coisas.

PRIMEIRO DIA DE TRABALHO (03/11/2008)

Hoje foi meu primeiro dia de trabalho. Vou fazer tipo um “programa de trainee”, passando por todos os departamentos do banco (eu achava que aqui era uma financeira, mas eles chamam de banco de microfinanças). Umas 15 pessoas foram contratadas e vão fazer a mesma coisa que eu, durante 3 meses. Fomos divididos em 3 grupos, uma mulher em cada grupo, o resto é de homens.

O primeiro departamento do meu grupo é o de TI. Mas não dá pra ensinar TI pra uma pessoa assim de um dia pro outro, então ficamos lendo o manual do sistema que o banco usa e fazendo nada. O que o pessoal mais faz aqui é ir ajudar algum usuário que está com problema/dificuldade, ou resolver algum problema que ocorreu pela falta de energia. E não dá pra gente ajudar nessa parte, então não sei o que vamos ficar fazendo nesse departamento a semana inteira. Mas ta bom, liguei meu notebook e estou aqui escrevendo pra postar no blog.

Tem internet a cabo e internet sem fio. Adivinha qual das duas estava funcionando hoje? Nenhuma! Até conecta, mas é tão devagar que não abre nenhuma página, então pra mim é como se não tivesse. Dizem que a velocidade é boa antes das 8h da manhã e depois das 18h. Mas é perigoso ficar aqui à noite, é perigoso voltar sozinha pra casa muito tarde, então assim que acabar o horário de trabalho falaram pra eu ir direto pra casa ou ter sempre algum nativo comigo. Ou seja, não sei quando vou conseguir acessar a net, nem postar isso no blog. Mas vou escrevendo, qualquer coisa pago uma lan house e posto tudo de uma vez.

O meu chefe (o chefão, que é Chair do grupo de empresas) tem boas idéias, tenta fazer coisas novas, diferentes, é bastante inteligente e experiente. Achei o tal “programa de trainee” uma boa idéia e por enquanto está até que bem estruturado, fizeram umas apostilas, acharam um lugar grande pros treinamentos. Falando nisso, todo dia de manhã vou ir pra esse tal lugar, ter o treinamento, depois vir pra empresa.

Mas eu não vejo sentido em participar desse programa. Porque, como ele mesmo disse, a intenção é formar “bancários completos”(ou seja lá qual for a tradução para ‘complete bankers’). É fazer com que as pessoas que entrem na empresa a partir de agora conheçam bem todas as atividades realizadas, saibam como tudo funciona, para poderem escolher bem em qual querem trabalhar e também para que ele tenha flexibilidade de mão de obra caso precise. Mas eu não vou ficar aqui muito tempo, então não vejo sentido. Vou ficar 3 meses só aprendendo, pra depois ir embora?? Vou conversar disso com ele, mas não sei quando, porque acho que ele só volta aqui semana que vem.

ENERGIA ELÉTRICA

Já falei que a energia elétrica aqui é caótica. E que todas as empresas e quase todas as casas tem geradores movidos a gasolina, que fazem muito barulho e muita fumaça. Todo mundo reclama da situação, mesmo que ela seja a única realidade que eles conhecem. Alguns reclamam com piadinhas, outros ficam realmente chateados e até ofendidos.

Mas sempre que tem energia (seja ela da companhia de energia elétrica ou dos geradores), a primeira coisa que todo mundo faz é ligar TODAS as luzes da casa, todo os aparelhos eletrônicos (TV, som, ventilador, carregadores de pilha, celular, notebook)... aliás, eles não ligam, porque nunca desligam nada. Então é só chegar a energia que tudo liga de uma vez, de repente. Não importa se em alguém no cômodo, se tem alguém vendo a TV, nem mesmo se tem alguém na casa! Até pra dormir, deixam tudo ligado e aceso! E aí é claro que a energia acaba rapidinho, né?

Ainda não me acostumei com isso e tento falar com as pessoas, mas elas simplesmente não se importam. Dizem que a alegria deles é ligar tudo quando tem luz, que eu não sei o que é viver assim... então deixa eles ligarem, né? Acho muito estúpido, mas sempre que penso em um chuveiro penso em fazer a mesma coisa: ligar e ficar lá embaixo horas, sentindo a água escorrer pelo corpo, não importando se tem pouca água. Claro que não chegaria ao ponto de deixar o chuveiro ligado sem estar usando. Falando nisso, me disseram que quando tem água encanada é a mesma coisa: deixam todas as torneiras ligadas, chuveiro... até a água acabar!

AS AMIGAS DO MR. BAYO

Primeiro me falaram que o cara era casado, quando eu disse que não me sentia bem morando com um homem desconhecido, só nós dois na casa. Me falaram “não se preocupe, ele é bem mais velho, casado, com filhos... só que a família mora em Lagos e ele tem esse flat aqui porque vem muito pra cá. Não que o fato dele ser mais velho e ter filhos me tranqüilizou, mas me garantiram que não ia ter nenhum problema. Então eu vim.

Chegando aqui a primeira coisa que ele falou foi: “E aí, gostou da casa? Nada mal para um solteirão, né??”.

No outro dia ele ligou pra uma amiga (de uns 20 e poucos anos) vir pra cá ficar comigo, não queria que eu ficasse sozinha no primeiro dia. À noite ele não apareceu, dormiu fora de casa. Na outra noite apareceu com uma amiga pra tomar vinho. Ela dormiu aqui. No outro dia de manhã chegou a prima da amiga e ficaram aqui conversando, vendo TV e “me fazendo companhia”, enquanto ele foi trabalhar.

Á noite ele chegou e disse “estou indo pra Lagos, ver minha família”. Ele vai toda semana ver a família... pelo que parece, mulher e filhos!

E todas as amigas dele têm a chave da casa! :P

Fiquei meio perdida, até lembrar do meu amigo nigeriano perguntando quantas mulheres um homem costuma ter no Brasil e contando que aqui tem um cara que tem mais de 50. O homem pode ser casar com quantas mulheres quiser. E ter quantas amantes quiser.

É claro que as mulheres mais modernas, mais ricas e/ou mais instruídas não aceitam essa situação de vários casamentos. Nem os homens mais jovens que eu conheço têm vontade de ter mais de uma família. Mas “amigas”, por que não??

MINHA CASA (POR ENQUANTO) (02/11/2008)

Depois de muito brigar com o povo aqui e depois de dizer que se passasse mais uma noite no lugar em que estava, no outro dia de manhã ia embora pro Brasil, resolveram me trazer para a minha “casa”. Não tinha mais como ficar onde eu estava. Não tinha nenhuma privacidade, nenhum espaço... era um lugar muito sujo, cheio de gente desconhecida, com um buraco na porta do lugar de tomar banho e uma porta que abre com o vento no lugar de fazer xixi. E todo dia eles falavam pra eu esperar só mais um dia que iam resolver. Mas ninguém fazia nada. Depois que vim pra minha casa descobri que se não tivesse “dado piti” ia demorar pelo menos mais uns 4 ou 5 dias, porque o dono da casa ia viajar de novo.

O cara com quem estou morando, meu “anfitrião”, chama Mr. Bayo (ou Sr. Bayo), trabalha pro governo e tem um programa de televisão na TV estadual uma vez por semana. Aparentemente é muito rico. O carro dele pelo menos é muuuito chique, nunca vi igual. Joga golf (no fim de semana estava participando de um campeonato) e viaja muito. Fomos no programa de TV dele falar sobre a AIESEC, eu apareci um pouquinho, o povo achou o máximo. Ele mora na “GRA”, que é a área reservada para pessoas que trabalho no governo. Pelo carro dele e pelo que falaram da tal área, imaginei que tivesse uma casa muito boa.

A casa em si é bem boa, principalmente se comparada aos lugares onde as outras pessoas morar, que não vou nem chamar de casas. Fica num tipo de colônia com mais umas cinco casas, todas de pessoas ricas, que chegam aqui de Mercedes e BMWs. Mas definitivamente não é como imaginei.

As prioridades e valores aqui parecem ser bem diferentes. As pessoas que conheci têm celulares de última geração, iPods, TVs de tela plana, carros importados... mas comem muito mal (tão mal que têm que tomar vitaminas e suplementos ou correm sérios riscos de ter alguma deficiência), não têm qualquer sistema de saneamento básico, plano de saúde ou nada disso. Bom, plano de saúde não ia adiantar, porque os hospitais aqui são tão ruins que é realmente bem melhor você ficar em casa e só ir pro hospital se estiver quase morrendo. Ou talvez nem assim, porque você pode pegar doenças e infecções piores que as suas. Ainda bem que meu plano de saúde me leva pra Europa caso eu precise de cirurgia ou algo assim.

Mas água encanada pra mim é uma coisa que faz MUITA falta. E essa colônia de “pessoas ricas” onde estou não tem. Por enquanto só vi água encanada em empresas e hotéis. Mas eles dizem que tem em algumas casas. Estou tentando arrumar algum lugar pra mim que tenha. Por enquanto tenho que pegar água no “poço”... e é claro que a água não é limpa (mas é melhor do que na outra casa),

E não sei se é por causa da falta de água, se é por costume, ou se é porque até agora só conheci casas de homens, mas eles são muito porcos!! É tudo muito sujo!! Pintam as paredes dos banheiros e cozinhas de preto, aí junta a sujeira, a terra... fica bem nojento! Acho que a casa onde eu estou nunca foi lavada! Tem um esfregão no banheiro, mas acho que também nunca foi usado.

Hoje comprei desinfetante, peguei um tapetinho de banheiro que eu trouxe e fui dar uma limpada no quarto, porque a minha alergia me deu umas férias até hoje, mas já estou começando a sentir que ela está com vontade de dar um ataque bem grande a qualquer hora. Tirei umas fotos pra vocês verem que eu não estou exagerando. Dei uma limpada bem superficial e vou ver o que mais posso fazer.

O problema é que o tal do Mr. Bayo divide o flat (eles chamam tudo de flat) com algum outro cara que não aparece aqui tem uns bons meses, mas que deixou um monte de coisas aqui. E eu estou ocupando o quarto dele. É como se ele tivesse saído daqui numa manhã normal, pra trabalhar, e nunca tivesse voltado. Uma bagunça! Roupas espalhadas pelo chão, toalha pendurada atrás da porta, garrafa de água meio bebida na mesinha, desodorante com a tampa aberta, camisinhas (fechadas e usadas argh!) dentro do guarda-roupa... E tudo largado aqui há pelo menos uns 4 meses, num lugar onde as ruas são de terra... pensa o tanto que ta tudo sujo!! E as baratas mortas no meio da roupa??

E eu não sei se posso mexer nas coisas do cara, nem se quero! Então estou convivendo com a poeira até ver no que vai dar. Limpei as partes que consegui. E isso implica que ainda não consegui abrir minhas malas... quer dizer, abrir eu abri, mas continua tudo lá dentro. Hoje perguntei pro Mr. Bayo se eu podia usar um pedaço do guarda-roupa e ele afastou as camisas penduradas pro lado com a mão e falou pra eu usar o espaço que estava lá. Saiu pela porta e disse “estou indo viajar e volto quarta ou quinta, vou ver minha família” (que pode muito bem significar um mês, já que as pessoas aqui tem uma noção de tempo e prazos no mínimo esquisita).

Então não vou mexer em mais nada pelo menos até que ele volte. Queria ter falado mais alguma coisa antes dele ir, tipo “vou morrer de alergia ou de tristeza no meio desse monte de sujeira e lixo, será que dá pra você colocar as coisas do cara num canto, pelo menos pra eu limpar uma parte?”. Claro que não com essas palavras. Mas Mr. Bayo é enorme (alto e forte, ou gordo, não sei), com um bigodão, voz forte e passos firmes. Então não consigo conversar com ele direito, fico sem saber o que falar. Estou pedindo e perguntando uma coisa de cada vez, sempre que ele aparece aqui por 5 minutos (acho que ele não gosta muito da casa, porque raramente aparece pra se barbear ou pra dormir).

Ontem ele apareceu com uma mulher e uma garrafa de vinho tinto... disse que está procurando um “flat” pra alugar pra mim, pra eu ter a minha privacidade e ele ter a dele. Não sei porque ele que ta cuidando disso, porque ele não tem nada a ver com a AIESEC nem com a minha empresa, é só um amigo do meu chefe que se dispôs a ajudar. Mas vamos ver no que dá...

TRABALHO (02/11/2008)

Como eu ainda não tinha como abrir as malas, nem tomar banho direito, nessa semana não fui trabalhar. No sábado fui a uma reunião geral da empresa, na qual fui apresentada formalmente pra todo mundo.

A minha empresa é uma financeira e está preocupada com a crise (que dizem que só vai atingir a Nigéria no começo do ano que vem, então o povo menos instruído não tem nem idéia do que esteja acontecendo). E por isso meu chefe resolveu mudar um monte de coisas, a começar pelo salário. Vai ser dividido e pago em 2 vezes por mês, baseado em performance. Se você não fizer exatamente tudo o que esperam de você, não recebe 100%. Se se atrasar algum dia, se o celular tocar durante a reunião, se alguém (cliente ou funcionário) reclamar de você... desconto no salário. Claro que ninguém gostou da idéia, mas todo mundo precisa do emprego, então ninguém falou nada. Eu acho que não vai dar certo. Não sei se aqui tem leis trabalhistas, mas de qualquer forma acho que não vai dar certo. Ainda mais porque a pessoa responsável por controlar isso é a que mais tem cara de quem faz coisa errada.

Outra coisa que foi instituída é que durante os próximos 3 meses todo mundo tem treinamento das 7h00 às 8h30 da manhã, trabalha das 9h às 18h. Depois tem um outro treco pra fazer das 18h às 19h30, que eu ainda não entendi o que é, mas parece que não é todo dia. Isso foi outra coisa que não deixou ninguém mais feliz e sobre a qual o comentário do chefe foi algo como: “fiquem felizes de terem um emprego. Se estiverem achando ruim, podem ir embora. E vou chamar vocês aqui sempre que necessário, domingos, feriados, madrugadas. Quem não vier quando eu chamar, não precisa voltar.” E acreditem se quiser, ele disse tudo isso de forma simpática e convincente. Distribuiu umas apostilas pro povo ler durante o fim de semana, preparando pro primeiro treinamento, pagou o almoço de todo mundo e foi pro seu campeonato de golf (ele também joga golf e tem vários carros importados).

Ainda não sei o que vou fazer, qual vai ser minha função. Esse “meu chefe” na verdade fica em Lagos e vou ter um outro chefe aqui, com um inglês tão difícil que até hoje não consegui entender qual o nome dele. Também não sei se vou trabalhar esse tempo todo. Claro que eu quero ir nos treinamentos, preciso deles pra entender as coisas aqui e acho que vão ser interessantes, mas não sei se vou agüentar ficar todo esse tempo na empresa, não era esse o combinado. Mas vamos ver o que acontece na primeira semana. Desejem-me sorte!

EKITI (28/10/2008)

Fiquei na conferência até domingo, conheci algumas pessoas legais, desisti de tentar me acostumar com a comida apimentada, agora eu só como se for sem pimenta... Domingo no começo da tarde peguei um “táxi” pra vir pra minha cidade. Tem um lugar onde ficam estacionados vários ônibus (uma intenção de rodoviária) e do lado ficam vários carros (bem velhos) estacionados que fazem trajetos pra outras cidades. Nesse carro que eu peguei era pra caber 7 pessoas com mala. Eu ocupei o bagageiro todo sozinha e no banco de trás fomos eu, o Lulu (carinha da AIESEC que veio me acompanhar) e mais algumas mochilas. Outras 4 pessoas desconhecidas foram na frente.

Vim toda ansiosa pra conhecer minha casa, meu trabalho, a cidade em si... mas parece que o cara da casa onde eu vou morar está viajando então eu vim pra casa de um outro carinha da AIESEC. Achei muito ruim, primeiro porque teoricamente era pra eu morar sozinha, então não entendi essa de “o cara que vai morar com você está viajando”. Segundo porque estou em um quarto com mais 4 pessoas, dividindo 2 colchões, no quarto do lado tem mais 4 pessoas, no outro mais 3... um banheirinho bem pequeno e muito sujo, com um buraco na porta que não dá pra tampar então dá pro povo ver quem está tomando “banho”. Não tem água encanada, tem que ir lá fora buscar (e a água é suja). Já estou a 8 dias vivendo com uma mochila, porque não tem espaço pra abrir a mala, não tenho qualquer tipo de privacidade ou espaço pras minhas coisas. Reclamei com o povo aqui mas eles são MUITO lentos pra tomar qualquer atitude, então estou esperando, muito brava.

A cidade é mais calma que lagos, não tem tanta gente nas ruas, mas mesmo assim é bem cheia. O transito também não é dos melhores, todo mundo buzina o tempo todo, dirige displicentemente, correndo, virando na hora que dá vontade. De qualquer forma, é mais tranqüilo do que em Lagos, com certeza. Ainda não vi nenhum acidente, mas praticamente todos os carros tem algum amassado.

Ontem eu participei de uma coletiva de imprensa sobre um Congresso Internacional que a AIESEC vai realizar aqui em Ado-Ekiti (minha cidade, Ekiti é o estado). Fomos eu, a pessoa responsável pelo congresso e meu chefe, que está patrocinando o evento. Vários reportes de jornais e TV, dizem que vai sair em rede nacional. Eu fui até arrumadinha, fora o cabelo que está sem lavar há 3 dias. 3 dias suando pra caramba, pq aqui é muito calor, num lugar onde as ruas são de terra e num dos dias tomei chuva. Imagina o tanto que tava bonito! Tentei prender o cabelo, mas acho que não melhorou muito não. De qualquer forma, é impossível lavar o cabelo no lugar que eu estou, então vai ter que ficar assim mesmo. Era pra ter sido um dia legal, mas não aproveitei porque não estou me sentindo bem aqui.

A energia do post hoje não ta muito boa, mas não vou enfeitar nada, quero escrever no blog exatamente como estou me sentindo cada dia, acho mais real, mais legal... pra mim e pra quem lê.

Pelo menos comi arroz com feijão (sem pimenta) ontem e comprei papel higiênico. Não existe lixo pra jogar fora, mas melhor que nada. Carrego meu saquinho pro banheiro, jogo lá e depois jogo na rua (que é pra onde vai o lixo de qualquer forma, então não faz diferença tentar jogar em outro lugar).

Ah! Tive que comprar outro celular, porque o primeiro não recebia ligações internacionais... o novo número é 08082297703.

Espero ter coisas boas pra contar no próximo post.