quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Comidas

Comendo pizza em Victoria Island
(eu e a Nina quase explodimos de tanto comer, foi muito muito muito bom... tá que a pizza não era lá essas coisas, mas foi um pedacinho de paraíso)



Almoço: arroz branco, feijão frito e "stew"de vejetais,
é um molho feito com uma folha escura que baba igual quiabo, não faço idéia do nome. O povo acha muito estranho eu comer sem carne, mas assim que eu tiver a oportunidade de mostrar uma foto da carne vocês me falam se comeriam...


Pounded Yam
que eu defino como purê de inhame. Vem assim no balde e vc pede o tanto que quer, cada colherada custa uns 10 centavos.

Carne frita. Quer?




Amendoim e banana frita
(ao inves de babata frita, eles comem banana frita, tem em todo lugar... tipo ruffles, só que de banana...)

Mais fotos


Patricia (alemã), Sonja (lê-se Sônia, austríaca), eu (de camisa do Brasil), Anna e Lisa (suecas), na casinha da árvore, rodeadas por macaquinhos (que fugiram na hora da foto)

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Lojinha que vende chiclete e cholocate importado (sim, isso é uma "lojinha", mas estava fechada nessa hora)

Fotos do fim de semana

Praia (Lekii Beach)
Só tenho essa foto pq acabou a bateria da máquina, mas vou lá de novo fds que vem!




Casinha na árvore
(é muito alto, tentei mostrar na foto mas quando tirei foto lá de baixo nem deu per ver, então tirei na metade do caminho)





Subindo na casinha da árvore

FINAL DE SEMANA (18/11/2008)

Antes de contar do final de semana, quero me desculpar por não responder os comentários, mas estou sempre lendo todos e fico muito feliz quando tem algum!! Continuem escrevendo :-))))

Na sexta-feira fui em uma despedida de solteiro. É uma festa normal, com homens e mulheres bebendo, dançando... só que a noiva não vai e eles pagam bastante bebida pras mulheres pra elas ficarem tontas. Foi em um bar/boite na ilha, ficamos lá até umas 3 horas. Experimentei uma bebida que parece licor de jabuticaba, mas não sei se é e cerveja nigeriana, mas não bebi muito, só experimentei mesmo. Fui com a Nina e o pessoal da AIESEC.

SÁBADO: SHOPPING E PRAIA

No sábado eu e a Nina resolvemos ir ao Shoprite (shopping + supermercado) sozinhas. Anotamos os nomes dos lugares pra onde tínhamos que ir e pegamos o primeiro “ônibus” (vou colocar a foto, é daquelas vans amarelinhas). Até o segundo ônibus tava ok, mas na hora de pegar o terceiro não tínhamos a menor idéia de onde era o “ponto”, estávamos no meio de um dos mercados de rua mais cheios. Aí perguntamos pra uma moça que estava perto da gente e ela ia pro mesmo lugar, então a seguimos.

O shopping é realmente um shopping, com cinema, lojas caríssimas e praça de alimentação. Comemos uma pizza e fomos “passear” no supermercado por horas. Descobri que aqui existe, sim, pra vender, qualquer coisa que você queira comprar. Mas uma caixa de cereal pode custar até R$30,00 e 600 gramas de mussarela também. Vi frutas e verduras, chocolates, produtos de higiene pessoal, móveis, chuveiro (R$300,00). Pensamos em comprar várias coisas, mas não dá pra comprar nada que precise ficar em geladeira, ou mesmo longe do sol. E é tudo MUITO caro. Então compramos só uns chocolates.

Depois fomos pra praia, encontrar uns amigos da Nina. Conheci um alemão que morou um ano em Ipatinga/MG, por um programa de intercâmbio no colegial, três alemãs, duas suecas, uma austríaca e um guatemalense (como se chama quem nasce na Guatemala?). Todos estão aqui fazendo trabalho voluntário, alguns há poucas semanas, outros há quase um ano. A mais nova tem 19 anos e a mais velha tem 26. Se encontram todos os finais de semana, normalmente pra ir à praia, depois fazer alguma outra coisa. Têm outros gringos que se juntam ao grupo esporadicamente.

Gostei muito da praia, é tranqüila e cheia de palmeiras. É suja, mas perto do resto da cidade nem é tanto assim. Foi a primeira vez que eles foram nessa praia (Lekii Beach), antes iam em Takua Beach e dizem que é bem pior, muito mais suja e cheia de gente. Lekii Beach é longe e tem que pagar pra entrar. Mesmo sendo só R$2,50, limita bastante o acesso.

Depois da praia combinamos de ir no cinema que abriu aqui na Mainland, mas descobrimos que custa R$30,00 (mais caro que na ilha), então desistimos. Fiquei em casa vendo filme com a Nina.

DOMINGO: LEKII CONSERVATION CENTER

No domingo fui com a Nina, a Lisa (sueca de 19 anos), Anna (sueca), Patrícia (alemã) e Sonia (austríaca) em uma reserva ambiental. Todas nós tínhamos esperança de ver animais na África e estamos cansadas de ver só cabritos, galinhas e lagartos. O parque diz que tem macacos, crocodilos e vários pássaros. Nós vimos macacos e tartarugas.

O lugar é bem legal, bem conservado, limpo, bem sinalizado. Fizemos uma “trilha” de cerca de 2 horas no meio da floresta, subimos em uma casinha na árvore bem alta, onde ficamos rodeadas por macacos e descansamos um pouco em uns banquinhos numa área de pic-nic. Foi uma tarde bastante agradável.

No caminho de volta pra casa eu e a Nina passamos numa “lojinha” pra comprar DVDs (você compra um DVD aqui por R$5,00, com uns 10 filmes). Comprei uma coletânea da Julia Roberts e as primeiras temporadas de Lost. A Nina comprou uma coletânea de filmes românticos (diz ela que é difícil achar, normalmente quando vem escrito “românticos” é um monte de filme pornô) e uns outros seriados que ela gosta.

Fomos em uma outra “lojinha” que vende chocolate importado (tem um da Argentina muito gostoso e baratinho), mas estava fechada. Fomos também conhecer uma loja de verdade (chama Dominos) que parece um mini-supermercado e tem vários freezers, então dá pra comprar sorvete, queijo e coisas assim. E é em Mainland, então só precisamos pegar um ônibus até lá. Mas as coisas continuam sendo bem caras.

Eu vi umas latinhas de “evaporated milk” e comprei, toda feliz, pra fazer brigadeiro. Compramos margarina e chocolate em pó também e atum e extrato de tomate pra fazer macarrão. Mas descobri que leite “evaporado” não é a mesma coisa que leite condensado, que o chocolate em pó só mistura com água e leite em pó, não com leite de verdade (porque todo mundo aqui só bebe leite em pó, porque não tem geladeira) e então só consegui um pouco de chocolate queimado.

ANJINHOS (17/11/2008)

Quando acompanhava os blogs da Letícia em Bangladesh e da Marina na Ucrânia / mochilão na Europa, sempre que lia sobre os ‘anjos’ que elas encontravam pelo caminho ficava imaginando de saberia reconhecer os meus.

Penso que com certeza vários anjinhos já me ajudaram pelo caminho, sem que eu os percebesse. E quais eu percebi?

Quando penso em um anjinho a primeira imagem que me vem à cabeça é a de uma criança loirinha, de bochechas rosadas, com uma “calcinha” branca. O primeiro anjinho que eu reconheci aqui está longe disso, mas com certeza foi um super anjo: Mr. Bayo.

Quando eu e a Nina estávamos perdidas tentando pegar um ônibus, a moça que apareceu pra ajudar com certeza é outro.

Quando a polícia (que não é nem um pouco agradável e extremamente corrupta) parou o táxi que pegamos (eu e mais 5 “gringas”) pra ir em uma reserva ambiental e pediu os passaportes (que ninguém tinha levado), o moço que viu a cena e parou pra ajudar com certeza é outro.

A minha vizinha (que deve ter uns 5 anos), que sempre pergunta o nome da Nina de novo porque esqueceu, e só perguntou uma vez o meu, é outro. Lembrou meu nome e gritou “Luna, Luna, aqui, aqui”, quando eu estava passando de moto sozinha, à noite, e não lembrava onde era a casa da Nina.

Tem também o Okada (moto-taxi) que está sempre perto da casa da Nina e conhece os lugares que eu “costumo” ir, então sempre que estou sozinha e ele está por perto, vou com ele. Hoje um cara que estava em outra moto começou a falar comigo (“oi, você é linda, quero casar com você”, etc etc etc) e depois começou a puxar meu braço e falar um monte de coisas que eu não entendi. Meu anjinho okada desacelerou a moto e tentou ficar longe do cara. Quando viu que o cara estava seguindo a gente, deu uma volta enorme pra despistá-lo. Não me falou nada, nem cobrou a mais por isso. Só disse que era pra eu tomar cuidado e ficou me vigiando de longe enquanto eu ia do lugar onde desci da moto pro escritório da AIESEC.

Agradeço imensamente a todos os meus anjinhos (percebidos ou não) e espero que continuem me acompanhando.


sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Laolu (meu melhor amigo nigeriano) e eu no cinema.



Jantar de Gala em Ado-Ekiti



Eu, o povo da AIESEC e um cantor nigeriano famoso (esse de chapeuzinho vermelho).

Pessoas

MR. Kola Akosile, meu chefe!




Mr. Bayo Ayo, meu "host"

LAGOS (14/11/2008)

Depois de duas semanas tentando resolver as coisas em Ekiti, percebi que era inútil. Meu chefe é o único que pode me ajudar na empresa (os outros nem sabiam que eu vinha) e está sempre muito ocupado, ou viajando, então passei todo esse tempo fazendo nada. O meu ‘diretor’ só falava: “senta ali com ela e observa o que ela ta fazendo, pra aprender.” E aí fiquei observando o trabalho de caixa num dia, de atendimento ao consumidor no outro, do contador no outro... ou seja: o que me fez decidir vir pra cá, que era o trabalho com ONGs, microcrédito para grupos, estudos de viabilidade em projetos sociais e coisas assim, estava longe de acontecer. Depois de reclamar muito com a AIESEC e com meu chefe, ele me disse que eu tenho que ter paciência e que com certeza eu vou trabalhar com isso, mas vai levar algum tempo. Talvez (a palavrinha mágica nigeriana que tanto irrita qualquer estrangeiro) em um mês, talvez mais. Então decidi que não dá pra esperar e comecei a procurar outra coisa.

Vim para Lagos (a cidade grande e cheia de gente) na terça, com meu chefe. A viagem, que pode ser feita em 4 horas, durou 13. Porque ele passou numa fazenda pra conversar com um potencial parceiro, parou num “posto” pra esperar um amigo... um dia tipicamente nigeriano. Ninguém tem o menor compromisso com tempo, prazo, então tudo demora muito mais do que o necessário.

Em Lagos estou ficando na casa da Nina, trainee alemã que “trabalha” em uma empresa de RH. Ela mesma diz que “trabalha”, assim com aspas, porque ela está aqui tem 2 meses e a empresa não teve nenhum cliente nesse período. Mas ela vem pra cá todo dia e tenta fazer alguma coisa. Ela sofre bem mais que eu por causa da falta de compromisso e pontualidade das pessoas, porque ela é alemã. E extremamente pontual e profissional.

Na terça, depois que cheguei, nós cozinhamos macarrão. Foi maravilhoso comer algo diferente depois de semanas comendo bolachas e tortas de carne. Na quarta comi uma minipizza no almoço e um crepe à noite, na ilha. Meu amigo (Laolu) me levou na ilha pra ir no cinema (que custa em torno de R$20,00, durante a semana!), foi muito bom. Durante o dia fui conhecer o mercado de rua mais famoso daqui com o Laolu. Pelos padrões nigerianos até que estava vazio. Mas tem umas crianças (refugiadas de algum lugar que eu não entendi, mas parecem indianas) que ficam agarrando a gente (literalmente), pedindo dinheiro. Foi a primeira vez que vi alguém pedindo dinheiro aqui.

Ontem vim pra empresa da Nina usar a internet e à noite fomos passear com uma outra alemã (Patrícia) e uma austríaca (Sonia) que estão aqui fazendo trabalho comunitário. Primeiro fomos em uma loja (loja de verdade, não barraquinha de madeira na rua) tipo mercearia, que tem freezers, então tem coisas como queijo, sorvete e leite, que eu ainda não tinha visto aqui. Depois fomos numa tal de White House, um “restaurante” muçulmano tipo self-service. Tem várias coisas, você olha, escolhe o que quer, quanto quer (em Nairas) e elas colocam pra você. Comi purê de inhame (bem famoso aqui), molho de vegetais (na verdade é só uma folha escura, tipo couve) e banana frita.

Parênteses para falar sobre a nossa mesa, na White House: quatro Oimbos (é como eles chamam as pessoas brancas aqui) com certeza chamam muita atenção. Mas fora isso, foi muito bom poder responder sinceramente à pergunta “e aí, o que você está achando da Nigéria?”. Elas também detestam tudo que eu detesto e também pensam em voltar pra casa todo dia. A Patrícia gosta do que está fazendo (é realmente o que ela veio fazer), está aqui tem 4 meses e pretende ficar mais 5. A Sonia está aqui há 6 semanas e deveria ficar 9 meses, mas está com o mesmo problema que eu: veio pra fazer uma coisa e está fazendo outra completamente diferente e entediante. Vai tentar mudar, mas se não conseguir acho que vai embora.

Depois da White House as meninas foram pra casa e eu e a Nina formos para um bar com uns amigos dela, nigerianos e o Laolu. Era pra gente ter ido pro Hospital Psiquiátrico, mas estava fechado. Estranho, né?? Pois é, tem um centro social lá (um barzinho na verdade), que dizem os jovens ser o melhor lugar da cidade pra sair. Passei lá pra ver e é realmente dentro do complexo hospitalar, bem esquisito. Hoje vamos sair pra algum bar com as meninas que conheci ontem e outros “internacionais”. No fim de semana a Nina quer me levar pra conhecer a praia e o shopping que fica na ilha, diz ela que é muito bom e parece europeu.

Enquanto isso estou contatando todas as pessoas que conheço pra ver se arrumo outra coisa, em outro lugar. Também estou tentando arrumar alguma outra coisa aqui na Nigéria mesmo, mas não tenho muita esperança. Acho que devo ir embora daqui nas próximas duas semanas. Ainda sem destino definido. Assim que souber pra onde vou, quando vou e o que vou fazer, posto aqui.

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

FIM DE SEMANA (09/11/2008)


Nesse final de semana aconteceu o “Ekiti day”, tipo um “aniversário da cidade”, só que não é aniversário. Na sexta à noite teve o concurso de Miss Ekiti, um show de um comediante famoso aqui (muito bom por sinal) e algumas apresentações culturais. No sábado mais apresentações culturais durante todo o dia e um jantar a noite, com premiações para destaques da sociedade. O evento foi planejado, patrocinado e realizado por um grupo de pessoas influentes da cidade, que se uniram para... sei lá pra que, pra ter mais poder de certo. Eles têm um nome (e-eleven – originalmente os 11 mais poderosos de Ekiti – que agora são mais de 30) e se reúnem frequentemente pra discutir sobre política, para se divertir, para jogar golf, para fazer lobby, pra fazer negócios, pra escolher o próximo governante... coisas assim. Então é claro que todos os “premiados” no jantar de gala eram participantes do grupo.

Na sexta foi bem divertido, as candidatas a Miss eram bem feinhas (várias mulheres na platéia eram bem mais bonitas) e todo mundo ficava comentando. O comediante é realmente muito bom, tiveram umas performances locais ruins, um grupo de dança muito muito bom e uma apresentação de um cantor famoso. Fui como acompanhante do Mr. Bayo, aí nem paguei (custava uns R$20,00) e fiquei com o pessoal da AIESEC lá. Depois do evento fomos para uma boite, onde ficamos até 5 hrs da manhã. O povo aqui dança bem colado e pornograficamente e tinham um menino muito chato “seguindo” eu e minha amiga (que eu achava que era “amiga” do Mr. Bayo, mas descobri que é sobrinha, e é bem legal), tentando “encoxar” a gente. Aí desistimos e fomos sentar. Ela e uma amiga vieram dormir aqui em casa e acordaram às 7h da manhã, sei lá porquê, e ficaram fazendo barulho, então eu acordei também.

No sábado durante o dia ninguém quis me levar (acham chato ver essas coisas locais) e à noite foi o jantar mais tedioso da minha vida. Não achei o povo da AEISEC, então fiquei na mesa com Mr. Bayo, um monte de políticos chatos e suas “amigas”. Alguns estavam com as esposas. Não jantei, porque tudo era muito apimentado e já me acostumei a não comer à noite, então nem sinto mais fome. Depois achei o povo da AIESEC e eles queriam ir pra boite, mas eu tava morrendo de sono, então quis vir pra casa dormir.

Resumindo, passei o fim de semana reunida com a nata da sociedade Ekitizense (ou seja lá como se chama quem nasce aqui), em um hotel 4 estrelas bem chique, mesmo pros padrões brasileiros, andando em carros importados também muito chiques. Apesar disso, foram as minhas experiências mais Nigerianas, porque vi as roupas locais, apresentações culturais, culinária, música... e mesmo o contraste de riqueza e pobreza, que com certeza é uma das marcas da Nigéria.

A NIGÉRIA, POR UM NIGERIANO (09/11/208)

Hoje meu “host”, Mr. Bayo (que por sinal tem se mostrado uma ótima pessoa) me falou um pouco sobre a perspectiva que ele tem do próprio país. Foi muito interessante. Vou tentar reproduzir a essência do que ele falou aqui.

A Nigéria é composta por muitas (mais de 200) tribos, mas pode-se dividir a população em três etnias principais: os Yoruba (que ocupam o Sul), os Ebo (que ocupam o Leste) e os Hausa (que ocupam o Norte).

Há alguns anos, o país enfrentou uma Guerra Civil, provocada pelos Ebo, que no fim foram derrotados. Desde então, apesar de não terem sido expulsos do país, os pertencentes à essa etnia são marginalizados pelos demais. A região que ocupam é portanto, a mais pobre e tem o menor índice de desenvolvimento. Apesar disso, de acordo com Mr. Bayo, eles são os mais inteligentes e os mais empreendedores. Em toda família tem pelo menos uma pessoa com uma empresa própria e os donos sempre têm o cuidado de ensinar alguém mais da família sobre o negócio, seja para deixar um sucessor ou para expandir o negócio, abrindo mais algumas lojas. E são sempre lojas. Pouquíssimos se aventuram no ramo industrial. Preferem o comércio. São responsáveis pela grande maioria das representações comerciais, distribuidores e revendas de produtos no país, mesmo nas outras regiões.

No Norte estão os Hausa, no Niger Delta. É lá onde está o petróleo e, portanto, de onde vem a maior parte da riqueza do país. No entanto, é também uma região muito pobre, pois cerca de 90% da riqueza obtida com o petróleo sai do país, pelas mãos dos governantes e mesmo de alguns empresários. Segundo Mr. Bayo eles são “menos inteligentes”, estando atrasados cerca de 70 anos em relação à educação que se encontra nos estados do Sul. A religião predominante no Norte é o Islamismo e dizem que a região parece outro país, tão diferente são os costumes, culinária, língua e mesmo a aparência das pessoas. A região é famosa pelo altíssimo número de seqüestros.

No Sul, terra dos Yoruba, estão as grandes cidades (como Lagos e Abuja, a Capital do país), as melhores universidades, as grandes empresas. Mr. Bayo disse que os Yoruba são também muito inteligentes (prova disso é o número altíssimo de pessoas com PhD obtidos tanto nacional quanto internacionalmente), mas sua inteligência não gera desenvolvimento, por dois motivos: primeiro, porque ela é individual. Cada um cuida “do seu cantinho”, seu negócio, sua carreira, sua família, sem se preocupar com o país como uma só nação ou mesmo com a comunidade local. Segundo, porque as pessoas (claro que não todas, mas a maioria), usam sua inteligência para coisas ruins. Como só estão preocupados consigo mesmos, não pensam duas vezes antes de passar a perna em alguém, se isso trouxer um bom lucro. A religião predominante é o cristianismo e as igrejas são riquíssimas, donas dos melhores prédios, das maiores empresas, das contas no banco mais gordas e “dos principais líderes e governantes”.

O país tem diversos recursos naturais e grande potencial de desenvolvimento. Mas não vai pra frente. Mr. Bayo culpa péssimos líderes que sempre governaram o país, tirando o dinheiro daqui para investir lá fora. Mas ele mesmo confessa que gasta seu próprio dinheiro muito mais no exterior do que aqui. E então diz que além de bons líderes, o país precisa de consciência de coletividade, precisa se unir para crescer.

Falando em líderes, a corrupção aqui é assombrosa. Corrupção existe em qualquer lugar, mas aqui ela é extremamente comum e descarada. A diferença que eu vejo é que aqui sempre tem alguém de olho, querendo tirar o corrupto do seu posto, que seja pra assumir e ganhar o seu próprio dinheiro sujo. Então é raro um mesmo político iniciar e terminar seu mandato. É impeachment atrás de impeachment, quase sempre por uma falcatrua que foi descoberta. Mas quem faz isso não é o povo, mas os outros políticos que estão de olho no cargo. O povo só fica sabendo que alguma coisa aconteceu e que o líder agora é outro. As eleições não são obrigatórias (a maioria das pessoas nem é registrada oficialmente), então quem decide as coisas mesmo, são os partidos políticos: quem tem a aliança mais forte, quem tem mais dinheiro, quem é mais esperto. E como é no poder que se ganha dinheiro, o sonho de todo nigeriano é ser político. Em uma eleição presidencial, chegam a ter mais de 40 candidatos. E os candidatos mais fortes são inimigos mortais entre si.

Isso é um pouco do que eu sei sobre a Nigéria, vindo do assistente jurídico do atual governador do meu estado. Espero ter outras oportunidades de conversar com ele sobre política e economia, assuntos que nunca me interessaram, mas que começo a tentar entender um pouco melhor e que ele consegue explicar com muita clareza, fazendo tudo parecer simples.