segunda-feira, 3 de novembro de 2008

MINHA CASA (POR ENQUANTO) (02/11/2008)

Depois de muito brigar com o povo aqui e depois de dizer que se passasse mais uma noite no lugar em que estava, no outro dia de manhã ia embora pro Brasil, resolveram me trazer para a minha “casa”. Não tinha mais como ficar onde eu estava. Não tinha nenhuma privacidade, nenhum espaço... era um lugar muito sujo, cheio de gente desconhecida, com um buraco na porta do lugar de tomar banho e uma porta que abre com o vento no lugar de fazer xixi. E todo dia eles falavam pra eu esperar só mais um dia que iam resolver. Mas ninguém fazia nada. Depois que vim pra minha casa descobri que se não tivesse “dado piti” ia demorar pelo menos mais uns 4 ou 5 dias, porque o dono da casa ia viajar de novo.

O cara com quem estou morando, meu “anfitrião”, chama Mr. Bayo (ou Sr. Bayo), trabalha pro governo e tem um programa de televisão na TV estadual uma vez por semana. Aparentemente é muito rico. O carro dele pelo menos é muuuito chique, nunca vi igual. Joga golf (no fim de semana estava participando de um campeonato) e viaja muito. Fomos no programa de TV dele falar sobre a AIESEC, eu apareci um pouquinho, o povo achou o máximo. Ele mora na “GRA”, que é a área reservada para pessoas que trabalho no governo. Pelo carro dele e pelo que falaram da tal área, imaginei que tivesse uma casa muito boa.

A casa em si é bem boa, principalmente se comparada aos lugares onde as outras pessoas morar, que não vou nem chamar de casas. Fica num tipo de colônia com mais umas cinco casas, todas de pessoas ricas, que chegam aqui de Mercedes e BMWs. Mas definitivamente não é como imaginei.

As prioridades e valores aqui parecem ser bem diferentes. As pessoas que conheci têm celulares de última geração, iPods, TVs de tela plana, carros importados... mas comem muito mal (tão mal que têm que tomar vitaminas e suplementos ou correm sérios riscos de ter alguma deficiência), não têm qualquer sistema de saneamento básico, plano de saúde ou nada disso. Bom, plano de saúde não ia adiantar, porque os hospitais aqui são tão ruins que é realmente bem melhor você ficar em casa e só ir pro hospital se estiver quase morrendo. Ou talvez nem assim, porque você pode pegar doenças e infecções piores que as suas. Ainda bem que meu plano de saúde me leva pra Europa caso eu precise de cirurgia ou algo assim.

Mas água encanada pra mim é uma coisa que faz MUITA falta. E essa colônia de “pessoas ricas” onde estou não tem. Por enquanto só vi água encanada em empresas e hotéis. Mas eles dizem que tem em algumas casas. Estou tentando arrumar algum lugar pra mim que tenha. Por enquanto tenho que pegar água no “poço”... e é claro que a água não é limpa (mas é melhor do que na outra casa),

E não sei se é por causa da falta de água, se é por costume, ou se é porque até agora só conheci casas de homens, mas eles são muito porcos!! É tudo muito sujo!! Pintam as paredes dos banheiros e cozinhas de preto, aí junta a sujeira, a terra... fica bem nojento! Acho que a casa onde eu estou nunca foi lavada! Tem um esfregão no banheiro, mas acho que também nunca foi usado.

Hoje comprei desinfetante, peguei um tapetinho de banheiro que eu trouxe e fui dar uma limpada no quarto, porque a minha alergia me deu umas férias até hoje, mas já estou começando a sentir que ela está com vontade de dar um ataque bem grande a qualquer hora. Tirei umas fotos pra vocês verem que eu não estou exagerando. Dei uma limpada bem superficial e vou ver o que mais posso fazer.

O problema é que o tal do Mr. Bayo divide o flat (eles chamam tudo de flat) com algum outro cara que não aparece aqui tem uns bons meses, mas que deixou um monte de coisas aqui. E eu estou ocupando o quarto dele. É como se ele tivesse saído daqui numa manhã normal, pra trabalhar, e nunca tivesse voltado. Uma bagunça! Roupas espalhadas pelo chão, toalha pendurada atrás da porta, garrafa de água meio bebida na mesinha, desodorante com a tampa aberta, camisinhas (fechadas e usadas argh!) dentro do guarda-roupa... E tudo largado aqui há pelo menos uns 4 meses, num lugar onde as ruas são de terra... pensa o tanto que ta tudo sujo!! E as baratas mortas no meio da roupa??

E eu não sei se posso mexer nas coisas do cara, nem se quero! Então estou convivendo com a poeira até ver no que vai dar. Limpei as partes que consegui. E isso implica que ainda não consegui abrir minhas malas... quer dizer, abrir eu abri, mas continua tudo lá dentro. Hoje perguntei pro Mr. Bayo se eu podia usar um pedaço do guarda-roupa e ele afastou as camisas penduradas pro lado com a mão e falou pra eu usar o espaço que estava lá. Saiu pela porta e disse “estou indo viajar e volto quarta ou quinta, vou ver minha família” (que pode muito bem significar um mês, já que as pessoas aqui tem uma noção de tempo e prazos no mínimo esquisita).

Então não vou mexer em mais nada pelo menos até que ele volte. Queria ter falado mais alguma coisa antes dele ir, tipo “vou morrer de alergia ou de tristeza no meio desse monte de sujeira e lixo, será que dá pra você colocar as coisas do cara num canto, pelo menos pra eu limpar uma parte?”. Claro que não com essas palavras. Mas Mr. Bayo é enorme (alto e forte, ou gordo, não sei), com um bigodão, voz forte e passos firmes. Então não consigo conversar com ele direito, fico sem saber o que falar. Estou pedindo e perguntando uma coisa de cada vez, sempre que ele aparece aqui por 5 minutos (acho que ele não gosta muito da casa, porque raramente aparece pra se barbear ou pra dormir).

Ontem ele apareceu com uma mulher e uma garrafa de vinho tinto... disse que está procurando um “flat” pra alugar pra mim, pra eu ter a minha privacidade e ele ter a dele. Não sei porque ele que ta cuidando disso, porque ele não tem nada a ver com a AIESEC nem com a minha empresa, é só um amigo do meu chefe que se dispôs a ajudar. Mas vamos ver no que dá...

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