sexta-feira, 14 de novembro de 2008

LAGOS (14/11/2008)

Depois de duas semanas tentando resolver as coisas em Ekiti, percebi que era inútil. Meu chefe é o único que pode me ajudar na empresa (os outros nem sabiam que eu vinha) e está sempre muito ocupado, ou viajando, então passei todo esse tempo fazendo nada. O meu ‘diretor’ só falava: “senta ali com ela e observa o que ela ta fazendo, pra aprender.” E aí fiquei observando o trabalho de caixa num dia, de atendimento ao consumidor no outro, do contador no outro... ou seja: o que me fez decidir vir pra cá, que era o trabalho com ONGs, microcrédito para grupos, estudos de viabilidade em projetos sociais e coisas assim, estava longe de acontecer. Depois de reclamar muito com a AIESEC e com meu chefe, ele me disse que eu tenho que ter paciência e que com certeza eu vou trabalhar com isso, mas vai levar algum tempo. Talvez (a palavrinha mágica nigeriana que tanto irrita qualquer estrangeiro) em um mês, talvez mais. Então decidi que não dá pra esperar e comecei a procurar outra coisa.

Vim para Lagos (a cidade grande e cheia de gente) na terça, com meu chefe. A viagem, que pode ser feita em 4 horas, durou 13. Porque ele passou numa fazenda pra conversar com um potencial parceiro, parou num “posto” pra esperar um amigo... um dia tipicamente nigeriano. Ninguém tem o menor compromisso com tempo, prazo, então tudo demora muito mais do que o necessário.

Em Lagos estou ficando na casa da Nina, trainee alemã que “trabalha” em uma empresa de RH. Ela mesma diz que “trabalha”, assim com aspas, porque ela está aqui tem 2 meses e a empresa não teve nenhum cliente nesse período. Mas ela vem pra cá todo dia e tenta fazer alguma coisa. Ela sofre bem mais que eu por causa da falta de compromisso e pontualidade das pessoas, porque ela é alemã. E extremamente pontual e profissional.

Na terça, depois que cheguei, nós cozinhamos macarrão. Foi maravilhoso comer algo diferente depois de semanas comendo bolachas e tortas de carne. Na quarta comi uma minipizza no almoço e um crepe à noite, na ilha. Meu amigo (Laolu) me levou na ilha pra ir no cinema (que custa em torno de R$20,00, durante a semana!), foi muito bom. Durante o dia fui conhecer o mercado de rua mais famoso daqui com o Laolu. Pelos padrões nigerianos até que estava vazio. Mas tem umas crianças (refugiadas de algum lugar que eu não entendi, mas parecem indianas) que ficam agarrando a gente (literalmente), pedindo dinheiro. Foi a primeira vez que vi alguém pedindo dinheiro aqui.

Ontem vim pra empresa da Nina usar a internet e à noite fomos passear com uma outra alemã (Patrícia) e uma austríaca (Sonia) que estão aqui fazendo trabalho comunitário. Primeiro fomos em uma loja (loja de verdade, não barraquinha de madeira na rua) tipo mercearia, que tem freezers, então tem coisas como queijo, sorvete e leite, que eu ainda não tinha visto aqui. Depois fomos numa tal de White House, um “restaurante” muçulmano tipo self-service. Tem várias coisas, você olha, escolhe o que quer, quanto quer (em Nairas) e elas colocam pra você. Comi purê de inhame (bem famoso aqui), molho de vegetais (na verdade é só uma folha escura, tipo couve) e banana frita.

Parênteses para falar sobre a nossa mesa, na White House: quatro Oimbos (é como eles chamam as pessoas brancas aqui) com certeza chamam muita atenção. Mas fora isso, foi muito bom poder responder sinceramente à pergunta “e aí, o que você está achando da Nigéria?”. Elas também detestam tudo que eu detesto e também pensam em voltar pra casa todo dia. A Patrícia gosta do que está fazendo (é realmente o que ela veio fazer), está aqui tem 4 meses e pretende ficar mais 5. A Sonia está aqui há 6 semanas e deveria ficar 9 meses, mas está com o mesmo problema que eu: veio pra fazer uma coisa e está fazendo outra completamente diferente e entediante. Vai tentar mudar, mas se não conseguir acho que vai embora.

Depois da White House as meninas foram pra casa e eu e a Nina formos para um bar com uns amigos dela, nigerianos e o Laolu. Era pra gente ter ido pro Hospital Psiquiátrico, mas estava fechado. Estranho, né?? Pois é, tem um centro social lá (um barzinho na verdade), que dizem os jovens ser o melhor lugar da cidade pra sair. Passei lá pra ver e é realmente dentro do complexo hospitalar, bem esquisito. Hoje vamos sair pra algum bar com as meninas que conheci ontem e outros “internacionais”. No fim de semana a Nina quer me levar pra conhecer a praia e o shopping que fica na ilha, diz ela que é muito bom e parece europeu.

Enquanto isso estou contatando todas as pessoas que conheço pra ver se arrumo outra coisa, em outro lugar. Também estou tentando arrumar alguma outra coisa aqui na Nigéria mesmo, mas não tenho muita esperança. Acho que devo ir embora daqui nas próximas duas semanas. Ainda sem destino definido. Assim que souber pra onde vou, quando vou e o que vou fazer, posto aqui.

Um comentário:

Nina disse...

Aproveita pra conversar em alemão com a Nina!! Pede pra ela fala "Regen" com o rrr bem forçado pra vc ver o tanto que é impossível
hahaha