segunda-feira, 10 de novembro de 2008

A NIGÉRIA, POR UM NIGERIANO (09/11/208)

Hoje meu “host”, Mr. Bayo (que por sinal tem se mostrado uma ótima pessoa) me falou um pouco sobre a perspectiva que ele tem do próprio país. Foi muito interessante. Vou tentar reproduzir a essência do que ele falou aqui.

A Nigéria é composta por muitas (mais de 200) tribos, mas pode-se dividir a população em três etnias principais: os Yoruba (que ocupam o Sul), os Ebo (que ocupam o Leste) e os Hausa (que ocupam o Norte).

Há alguns anos, o país enfrentou uma Guerra Civil, provocada pelos Ebo, que no fim foram derrotados. Desde então, apesar de não terem sido expulsos do país, os pertencentes à essa etnia são marginalizados pelos demais. A região que ocupam é portanto, a mais pobre e tem o menor índice de desenvolvimento. Apesar disso, de acordo com Mr. Bayo, eles são os mais inteligentes e os mais empreendedores. Em toda família tem pelo menos uma pessoa com uma empresa própria e os donos sempre têm o cuidado de ensinar alguém mais da família sobre o negócio, seja para deixar um sucessor ou para expandir o negócio, abrindo mais algumas lojas. E são sempre lojas. Pouquíssimos se aventuram no ramo industrial. Preferem o comércio. São responsáveis pela grande maioria das representações comerciais, distribuidores e revendas de produtos no país, mesmo nas outras regiões.

No Norte estão os Hausa, no Niger Delta. É lá onde está o petróleo e, portanto, de onde vem a maior parte da riqueza do país. No entanto, é também uma região muito pobre, pois cerca de 90% da riqueza obtida com o petróleo sai do país, pelas mãos dos governantes e mesmo de alguns empresários. Segundo Mr. Bayo eles são “menos inteligentes”, estando atrasados cerca de 70 anos em relação à educação que se encontra nos estados do Sul. A religião predominante no Norte é o Islamismo e dizem que a região parece outro país, tão diferente são os costumes, culinária, língua e mesmo a aparência das pessoas. A região é famosa pelo altíssimo número de seqüestros.

No Sul, terra dos Yoruba, estão as grandes cidades (como Lagos e Abuja, a Capital do país), as melhores universidades, as grandes empresas. Mr. Bayo disse que os Yoruba são também muito inteligentes (prova disso é o número altíssimo de pessoas com PhD obtidos tanto nacional quanto internacionalmente), mas sua inteligência não gera desenvolvimento, por dois motivos: primeiro, porque ela é individual. Cada um cuida “do seu cantinho”, seu negócio, sua carreira, sua família, sem se preocupar com o país como uma só nação ou mesmo com a comunidade local. Segundo, porque as pessoas (claro que não todas, mas a maioria), usam sua inteligência para coisas ruins. Como só estão preocupados consigo mesmos, não pensam duas vezes antes de passar a perna em alguém, se isso trouxer um bom lucro. A religião predominante é o cristianismo e as igrejas são riquíssimas, donas dos melhores prédios, das maiores empresas, das contas no banco mais gordas e “dos principais líderes e governantes”.

O país tem diversos recursos naturais e grande potencial de desenvolvimento. Mas não vai pra frente. Mr. Bayo culpa péssimos líderes que sempre governaram o país, tirando o dinheiro daqui para investir lá fora. Mas ele mesmo confessa que gasta seu próprio dinheiro muito mais no exterior do que aqui. E então diz que além de bons líderes, o país precisa de consciência de coletividade, precisa se unir para crescer.

Falando em líderes, a corrupção aqui é assombrosa. Corrupção existe em qualquer lugar, mas aqui ela é extremamente comum e descarada. A diferença que eu vejo é que aqui sempre tem alguém de olho, querendo tirar o corrupto do seu posto, que seja pra assumir e ganhar o seu próprio dinheiro sujo. Então é raro um mesmo político iniciar e terminar seu mandato. É impeachment atrás de impeachment, quase sempre por uma falcatrua que foi descoberta. Mas quem faz isso não é o povo, mas os outros políticos que estão de olho no cargo. O povo só fica sabendo que alguma coisa aconteceu e que o líder agora é outro. As eleições não são obrigatórias (a maioria das pessoas nem é registrada oficialmente), então quem decide as coisas mesmo, são os partidos políticos: quem tem a aliança mais forte, quem tem mais dinheiro, quem é mais esperto. E como é no poder que se ganha dinheiro, o sonho de todo nigeriano é ser político. Em uma eleição presidencial, chegam a ter mais de 40 candidatos. E os candidatos mais fortes são inimigos mortais entre si.

Isso é um pouco do que eu sei sobre a Nigéria, vindo do assistente jurídico do atual governador do meu estado. Espero ter outras oportunidades de conversar com ele sobre política e economia, assuntos que nunca me interessaram, mas que começo a tentar entender um pouco melhor e que ele consegue explicar com muita clareza, fazendo tudo parecer simples.

4 comentários:

Nina disse...

Viu?? VC não é só um rostinho bonito e um cabelo sujo... Vc é cultura tb!!!!

Adriana disse...

Saudade de você.

Thayanne disse...

Eu senti um ar de que as coisas são mais bagunçadas que aqui no Brasil, mas infelizmente a gente tá no mesmo patamar de usar a inteligência pras coisas ruins, e a parte da individualidade que é sempre tão recorrente neh?!
Gostei dessas histórias políticas. Quando estava no Canadá também me interessava muito é legal pra entender pq o país é do jeito que é.
Beijos

Anônimo disse...

ola luna, adoramos o seu blog, espero que vc ache o melhor pra vc, mas para uma boa historia já esta incrivel. nos tb estamos pretendendo viajar pro exterior. algo radical assim, adoramos desafios tb. estamos com saudades.... bjos clarissa e evaristo